Amamos os pais ativos!!!!

"Amamos os pais ativos!"
Ousaria dizer que poderia ouvir essa frase de TODAS as mães desse mundão.
Nesse post, a Ligia Moreiras Sena do www.cientistaqueviroumae.com.br escreve lindamente sobre essas transformações da paternidade nos nossos tempos.

http://www.cientistaqueviroumae.com.br/2013/04/pais-nossos-quando-o-homem-decide-se.html


Pais nossos: quando o homem decide se entregar à paternidade

Como é bacana ver um pai ativo. Um pai envolvido, disposto a se embrenhar na criação dos filhos tanto quanto a mãe. Acho lindo. Comento com as pessoas quando conheço um pai desses, valorizo, destaco a importância, falo sobre.
"O cheiro da casa, o cheiro do quarto, era uma coisa muito marcante.
A gente não comprou aquela essência, ela apareceu do nada".
Mas não deveria ser assim.
Não deveria mesmo.
Deveria ser natural... deveria ser comum, frequente.
Deveria ser tão natural quanto ver uma mãe ativa.
Deveria ser a regra.
Mas, sabemos... Não é.
Estamos vindo de um processo histórico em que a paternidade representou, por muito tempo, a provisão material, o colocar dinheiro para dentro de casa, o trabalho do homem fora, chegando tarde, para sair cedo no dia seguinte, dizendo ser esse seu papel na família: o sustento, o prover. E tá muito bom, obrigada, não me amole, estou fazendo meu dever como pai.
Esse era o homem de família, o pai de família dedicado e cumpridor do seu dever.
Mas como a fila anda e a história também, muita coisa vem mudando na estrutura social desde as décadas de 60, 70, mesmo que a passos lentos.
Talvez nem tão lentos...
Tenho 34 anos. E fui criada - aquela criação mesmo, pra valer, diária, de amor, beijo, briga, bronca, ensinamento do dia a dia - por  minha mãe. Sou muito amiga do meu pai, nos damos muito bem, mas criação mesmo eu recebi dela. E isso também porque ele era aquele pai comum do meio urbano dos anos 80. Levantava cedo, se arrumava, ia para o trabalho, voltava à noite, trazia um chocolate, assistia Jornal Nacional, dormia e recomeçava tudo no dia seguinte. Não se interessava muito pela criação em si. Nunca me agrediu, xingou ou foi violento, nem mesmo verbalmente. Pelo contrário, foi sempre muito carinhoso, afetuoso e amigo. Mas pai perto da gente, pra valer, era só no fim de semana. Esperávamos ansiosas para estar com ele, tão raras eram as oportunidades. Pai para mim era isso. Claro que poderia ter sido aquela variação de pai que trabalha fora o dia inteiro e, ainda assim, se envolve ativamente, dá o jantar para os filhos, dá o banho, troca a fralda, coloca o pijama, conta uma história, acorda durante a madrugada para dar um colinho e tal. Mas não foi. E para mim - e a grande maioria dos meus amigos de infância - essa era a regra.
Mas agora, não é mais regra não.
Três décadas se passaram e hoje minha filha tem um pai que é tão presente quanto eu, em todas as questões. E muitos dos meus amigos já pais também são assim. Acho que a  maioria. Envolvidos, ativos, presentes, participativos. Gente que esteve junto e misturado durante a gravidez, que se disse grávido, que estudou sobre o parto, que amamentou junto, que desmamou junto, que dormiu junto, pai pra valer, pai de madrugada, pai de cólica, pai de dentinho nascendo, pai que sabe ler o choro, que conhece os diferentes tons de chamado, que entende de cocô, pai. Pai. De verdade. Assim. P-A-I.
Tenho visto que a maternidade ativa, de modo geral, não vem sozinha. Ela vem fortemente acompanhada, apoiada, sustentada e enriquecida pela paternidade ativa. Mesmo porque, acredito piamente na relação direta entre maternidade ativa e empoderamento feminino. Quanto mais empoderada, mais realmente envolvida nas questões sobre filhos está uma mulher, mais exigente ela se torna. Que mãe questionadora, ativa, investigadora do que é melhor para seu filho, seletiva, conectada aceita uma paternidade mais ou menos? Poucas. E mesmo as que aceitam, aceitam por pouco tempo. Logo se cansam e percebem que podem tocar a vida sozinhas e muito bem, obrigada.


"Eu tava cuidando do bebê e dela ao mesmo tempo, que ela também
não estava muito legal. Mas eu tinha a experiência da minha primeira
filha"
Nesse fim de semana, teve mais um Bazar Coisas de Mãe aqui em Florianópolis, aquele evento do qual sou uma das fundadoras e que está em funcionamento há mais de 2 anos e meio. E a quantidade de pais ativos que encontrei foi algo assim... realmente especial. Homens que sabem absolutamente tudo sobre o que está acontecendo na vida dos filhos, quais os saltos de desenvolvimento pelos quais estão passando, que cuidam deles tanto quanto as mães e mostram-se conectados, interessados. Que escolhem a roupinha pensando se vai prender o movimento, que perguntam sobre os ingredientes do alimento, que perguntam sobre um determinado livro e se interessam em aprender como dar banho de balde no bebê. Pais que mudaram de vida para estar mais presentes, que conhecem os componentes utilizados na fralda que seus filhos usam, que amarram seus slings e vão fazer pão.
E eles são cada vez mais numerosos. 
Na própria fan page deste blog  há uma grande quantidade de homens assim, o que me deixa muito otimista e feliz. 
Lembro-me que, em 2010, quando minha filha tinha apenas três meses, nós organizamos em nossa casa um Baby Ballads - nome que demos brincando e pegou. Juntamos uns quatro ou cinco casais com bebezinhos bem novinhos e crianças e fizemos uma festinha noturna em nossa casa. Aqui no blog tem o relato disso, com foto e tudo, só não procurei o link. Aquilo nos uniu muito. Hoje somos todos amigos e fazemos questão de nos encontrar, ainda que demore um pouco em função do corrido da vida. Uma dessas amigas - hoje com dois filhos, um nascido de cesárea e a outra de parto normal 1 ano e três meses depois, cujo relato de nascimento também está aqui no blog -, certa hora, entrou e comentou: "Os homens estão lá na churrasqueira reunidos, conversando. Não quis interrompê-los. Estão muito empolgados conversando sobre... parto". 
Sim, eles conversam sobre parto, sobre filhos, sobre coisas que pertencem ao universo de todos os seres humanos, mas que por uma questão de valores patriarcais, arcaicos, machistas, eram considerados como exclusivamente pertencentes ao universo feminino... Como se amor fosse seletivo e escolhesse gênero. Como se amor pelos filhos estivesse nos ovários ou nos testículos e não na essência de um ser humano.

Então agora eu vou parar por aqui para que você possa usar seu tempo para ouvi-los.  
Muitas mulheres se reúnem sempre para compartilhar suas histórias de parto, de gestação, maternidade, em rodas de conversa, bate-papos, grupos e tal. Mas poucas vezes os homens fazem isso - e será lindo quando isso se tornar mais frequente. Lindo e empoderador. A revolução feminista que se iniciou nas décadas de 60 e 70 continua em andamento, estamos aí, braços fortes em riste com punhos cerrados lutando por nossos direitos, pelo respeito e pela equidade de gênero. E eu acredito sinceramente que o que falta agora é a revolução do homem. Não a revolução do macho, que esse aí já se tornou obsoleto e caricato. A revolução do homem que assume de fato todas as partes da sua vida. Inclusive as lindas experiências que só a paternidade ativa pode oferecer.

Assista a esse vídeo. É uma roda de homens que conversam sobre a gestação e o parto da companheira. Eu adoro ouvi-los. Eles são sinceros, envolvidos e estão à vontade para contar sobre suas experiências na gestação e parto. Eles são tudo de bom.
Que isso se torne cada vez mais frequente.
Que os homens assumam de uma vez a parte que lhes cabe nesse feliz latifúndio onde criamos seres humanos para a vida.


http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=xnsb2gZkNho

"Ele acordava e a mãe nem acordava. Eu pegava o bebê do berço, ele chorava, eu já sabia, tá com fome. Ia lá, tirava o seio dela, colocava na boca dele, ele mamava, ela dormindo, aí quando ele soltava o peito eu ia lá, botava ele pra arrotar e pá, e botava na cama. E aí no dia seguinte ela me perguntava: 'E aí, ele mamou quantas vezes?' Tipo assim..."
Só entende a delícia disso quem passou centenas de noites acordando para amamentar.
Inspirem-se! Vale a pena.